segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Sobre um certo baú...

  Saudações, e sejam bem vindos ao baú do arquimago, o melhor blog de...

  De quê mesmo?

  Bem, nada melhor do que uma história para esclarecer isso.

  Encontrei o baú por acaso, na ampliação da casa. Estava cavando um buraco e de repente senti aquele golpe de quando a pá acerta algo sólido. Droga de entulho, foi o que pensei enquanto jogava a pá, com raiva. 
  Decidi ir tomar uma água.

  Voltei com uma picareta, pronto para extravasar. Mas não era entulho. Era algo metálico. Levei o resto da tarde para desenterrar.
  Era um baú. Uma droga de baú velho. E grande. Devia caber uma pessoa dentro. E pesado como o mundo. Com um esforço titânico, consegui tirá-lo do buraco.
  Estava sujo, mas nada que um jato d'água não pudesse resolver. Não era feio, afinal. O artesão havia sido competente, principalmente no acabamento.

  Dava pra conseguir uma grana por ele.
  O problema é que não consegui abrir. Estava trancado com um cadeado de ferro do tamanho da minha mão. Parecia antigo, mas não tinha sinal de ferrugem. 
  Busquei uma serra. Quebrei a lâmina.
  Um pé de cabra. Fiz força até dizer chega.
  Nada.
  Levantei irritado e dei um bico no baú, o que serviu apenas para machucar meu pé.

  Quase desisti. Mas a curiosidade falou mais alto. Eu não poderia, afinal, vender o baú antes de abrir.
  E se o item em seu interior valesse mais do que o baú em si? Eu não poderia me perdoar por tal burrice.

  Passado um pouco a dor no pé, decidi me abaixar e inspecionar o cadeado. Para ver que tipo de tranca teria. Se fosse necessário uma chave, um chaveiro poderia resolver o meu problema, embora eu duvidasse muito. Quando o toquei, ouvi um estalo, e o maldito enfim se abriu.

  Foi de arrepiar. Sério. Aquelas coisas que só vemos em filmes, e dos ruins.
  Precisei das duas mãos para levantar a tampa. As dobradiças sequer rangeram.

  E, para meu assombro, estava cheio de...

                                                                                           ...papel.

  Toda a minha empolgação foi por água abaixo. Sentia-me um tolo por ter gastado um tarde inteira cavando, exausto por tentar abrir com o uso da força e com o pé doendo. Tudo isso por um punhado de papel velho.

  Tá certo, não um punhado. Estava cheio. Acho nunca vi tantas folhas soltas em minha vida. Algumas folhas eram velhas demais, prestes a desmancharem. Outras, amassadas ou rasgadas; ou ambos. Papel e mais papel.

  Estava quase fechando o baú quando uma última coisa me chamou a atenção.
  Havia ainda um livro. Era pequeno, mas não muito fino. A capa era de couro envelhecido, negra como a noite. Nela não havia nada escrito, sequer uma gravura ou símbolo.
  Resolvi abrir.

  Era uma espécie de códice, só que em formato de livro. Instruções para se decifrar um enigma.
  Muitas instruções. Mas talvez não fosse impossível...

  Peguei uma folha qualquer de dentro do baú. Estava manchada, de forma que apenas metade do conteúdo podia ser visto. Estava mesmo escrito numa espécie de código. Não havia como negar. Eu tinha algo interessante em mãos.

  Voltei minha atenção ao livro, para examiná-lo com mais atenção. Até que descobri um bilhete dentro. Uma pequena folha recortada, com não mais do que algumas palavras escritas.

  Com o códice e o bilhete em mãos, não havia como não tentar.
  Depois de algumas horas, eis o que descobri no bilhete:

  Caro aprendiz

  O que tem em mãos é nada menos do que o trabalho de minha vida. Se o baú abriu para você, é porque será capaz de desconstruir meu código. 

  Cada história que descobrirá dentre minhas anotações trata-se de um achado fortuito. Algumas eu vivi, mas estas posso dizer que foram poucas. Procurar por todas elas foi o que me manteve vivo por tanto tempo, me fazendo superar desafios aparentemente impossíveis. 

  No entanto, posso dizer, TODOS os relatos são verdadeiros. Não seria um contador de histórias bom se não verificasse.
  Há histórias das mais variadas. Desde pesquisas históricas até relatos de viajantes. Contos sobre heróis e vilões, mortais e deuses. Mundos que se floresciam enquanto outros acabavam. Amor, amizade e heroísmo, mas também ódio, tirania e traição.

  Estive em lugares que jamais poderia imaginar, e muitas vezes por histórias pouco interessantes.
  Algumas adquiri com facilidade, outras com suor e sangue.
  Por outras paguei, enquanto que algumas roubei.
  Mas no fim das contas todas se tornaram meus tesouros, meus maiores troféus.

  No entanto, nada dura para sempre.
  Tive de esconder o que me era tão precioso, e agora cabe a você, aprendiz, continuar este nobre trabalho.
  Mas cuidado, lembre-se:
  Algumas histórias deveriam ser deixadas em paz, como eu mesmo acabei descobrindo.

                                                                                                                         Boa sorte,
                                                                                                                      O Arquimago



  Foi difícil de acreditar, parecia uma brincadeira muito bem elaborada.
  Novamente retirei uma folha qualquer de dentro do baú.
  Poderia, no fim das contas, ser interessante.

  Tinha um novo trabalho pela frente.





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